sábado, 5 de setembro de 2009

Oswaldo Antônio Begiato

CINZAS DA SANIDADE

Varro o chão
Onde caíram as palavras comportadas
Que por entre dedos gélidos
De minhas mãos rudes
Deixei escapulir, por obstinação.

Junto-as e cremo-as.

As cinzas, entrego-as ao vento;
Leve-as ele para bem longe de mim,
Fantasma que são
Do poema reto
Que não me permiti consumar.

Não lapido as palavras.
Não destilo as palavras.

As lapidadas,
Deixo-as aos jovens apaixonados.
As destiladas,
Aos que delas se tornaram amantes incorrigíveis.

Quero-as selvagens,
Cheias de quinas e fios,
Cheias de doenças e vícios,
Para que quando brotarem de dentro de mim
Rasguem-me a carne,
Contaminem-me o sangue
E façam-se poemas tortos:
Eles me conferem vida intensa.

Não quero, pois, o poema da breve paixão,
Nem o da paixão amancebada:
Eu vou é me casar, para sempre, com o Cântico Negro.

Um comentário:

  1. Vania, bom me ver aqui...
    você devia postar suas coisas por aqui...
    tão bonito o blog...
    é um canal espetacular pra divulgar suas coisas tão bonitas...

    e obrigado por me dar a honra..
    a imensa honra de estar aqui...
    bjos.w

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